27 de setembro de 2010

A despropósito




Entre. Sinta-se a vontade. Aqui está o mapa e meu quarto desorganizado. Não há quereres guardados. Tudo que há aqui é por simplesmente estar ou porque estive e guardei sem querer. Não há fatos pendurados em quadros de paredes. Quando chove na madrugada, as gotas escolhem quais lembranças irão apagar.

Crio um monstro traumático embaixo da cama. Que desperta à luz da lua para tirar do meu mundo, paradigmas inexplicáveis. A mesa sempre foi inquieta. Sempre pediu mais e mais e mais. Eu, nunca soube a hora de parar. Obedecer o instinto acabou se tornando um vício. Coração? Este ordinário bateu forte um dia. Depois se jogou num buraco, indignado com os ciclos da terra, com os ciclos do amor. Ele não sabia jogar, não sabia viver.

A despropósito, as palavras não são ternas, as palavras não são calmas; as palavras são confusas e exageradas. Tal qual água de correnteza, que arrasta e afoga os sonhos mais esperados. Tal qual fogo em mata, que alastra, assustando a vida. Acabando com toda a incerteza dos desesperados.

Não há o que procurar neste espelho fragmentado que contorce imagens calculadas.
A despropósito, tudo isso só faz sentidos aos meus olhos quebrantados à realidade. O futuro sempre me foi um engano. Eu que nunca soube, mas sempre falei. Se ao menos Eu desse valor as palavras que solto ao mundo... Culpa da esperança, de acordar mais um dia pra viver mais um ultimo dia de vida.
De manhã acordo em gritos: Mãe, me dá cá o abraço de despedida, acho que vou morrer mais tarde. Pai, não te guardo rancor, pois nunca soube estar no seu lugar. Meu bem, minha amada. se não fugistes sem minhas malas, te daria a eternidade. João, cuida da casa que acho vou morrer mais tarde.

Saio de casa sem destino. Já fui a biblioteca e li duzentos prefácios de livros e nenhum me escolheu. A despropósito, levo uma mochila nas costas para carregar o fardo do meu desgosto. Homens tolos de seguir as palavras de outro homem!
"Venham comigo pois sou o único caminho da luz!" – Deus não é religião!

A despropósito, não quero explicação. Chega dessa crise de existencialismo. Quero descansar minhas mãos, quero apagar esse livro que vive aqui dentro. Quero enviar estas cartas sem destino.

Clayton Pires