21 de junho de 2010

Desprezo

Os pontos traçados
não formaram cicatriz

ainda tento a palavra
travada na garganta
como uma escolha infeliz

se me olhas assim,
rio com um riso manco
para disfarçar a mágoa
que deságua dentro de mim.

Clayton Pires
Só com o convívio
se torna próximo
o que era estranho

Como aves,
recebendo migalhas
para conhecer o prazer
de matar a fome

Para perceber que é preciso
persistir nos tombos,
para se chegar aonde
se queria.

Clayton Pires

Inverno

Acreditava ser só mais um sono,
Como qualquer outro fim de tarde.

Meus dedos se enroscavam nas lãs
De seus sonhos, e seus olhos se fechavam.

Mas antes da neve veio a tempestade,
E eu que não sabia de sua fragilidade,
Te deixei exposta ao tempo
Para aprender a viver com a saudade.

Acabei guardando o desenlaço
Os momentos vividos e engraçados
Que hoje já se tornaram papeis passados
-quase esquecidos- em que vivi ao seu lado.

Clayton Pires

Teleférico

a vista é linda por cima da cidade.

com o pés se batendo
no balanço da cadeira,
pareço sentir um pouco
de liberdade.

Navego no contrário da semana
(onde as horas correm)
e sinto mais do que penso.

A altura o lago os morros,
Sempre formaram uma bela paisagem.

Ontem não foi minha noite

As penas que mandei às pressas
Não chegaram aonde planejei;

Mesmo com toda a razão
-que era só minha-
E eu não tinha certeza.

Passei noite em claro
Travando discussões
Com meu interior

Que já não sabia de seu tamanho
E no fim,
Ninguém tinha ganho.

A lua,
Cortada pela metade
Ensagüentada,

Se escondia atrás do prédio
Por medo de ser vista
Desnuda.

Clayton Pires

Tanto fez Tanto faz

O passado se perdeu
e se prendeu nas lembranças.

Ficou assim: Tra-va-do

As estações se misturaram:

Sobre os tons
Sobre os sons
Com as têmperas

Agora, tanto-fez tanto-faz
Nem culpa, nem sentido, nem solução.

O que importa é o momento,
A intensidade do silêncio.

O estouro do vulcão
recém adormecido
E os passos adiante.

Clayton Pires

Sublime

As palavras me consomem
Nessas horas.

Debaixo dessa sombra
Que as folhas fizeram
Com a luz da lua.

Porque seus olhos continuam
Me dissolvendo aos poucos?

Continuo te querendo
Tanto quanto minha língua
ácida, pede sua pele.

Não consigo fugir:
Nada me impede
De não deixa-la fazer.

A noite deixou de ser tédio.

Se estamos assim, tão inquietos
Só peço que o sol demore a amanhecer.

Clayton Pires

Redenção

Não conto mais os dias

Desde que meus olhos
Se despedaçaram

As árvores ficaram mais frias
As flores esconderam os cheiros
Das palavras senti o destempero

Perdi a noção do que sentia
Junto com o medo de te machucar
Me perdi nas sobras das horas vazias

E o silêncio passou a ser tormento

Nada mais, é singelo
Nada mais, é seguro

A mentira de não te querer
Abraçou a minha falsa alegria.

Clayton Pires

Metrópole

As torres revoltadas
Refletiam as árvores
Falhas, na estrada.

Cabos de aço
Grudunhavam as pontes
Que passávamos.

Enquanto o céu
Em fúria,
Preparava chuva
De gafanhotos.

Era tarde,
Nos esforçávamos
Para chegar em casa
à tempo.


Clayton Pires

Carnívoro

Sangue-suga

fico no prazer
de sua pele
desejando
paralisar
a bomba

coração.

Clayton Pires

pequena*

Não acredito, pequena
cabestes no fecho
dos meu olhos

não acredito, no intento
de fugir de seus passos
e seguir esse imenso desejo

não acredito na cama
na lua, no abraço
que guartaste você
nesse tão pequeno momento.