6 de maio de 2011

Relicário

Relicário
(06/05/2011)

Pouco importam os poetas que passaram,
eles dizem a vida de forma tão triste e tão bela

parecem simples e insignificantes

quanto a pureza da primavera e suas cores

marcando andanças na querela de passos em luz
e não temem -fortalhões- não temem o mundo!

Tão desimportante o ato e o tombo
a escolha do roupante dos dias que se rompem sem pedir

[ tudo parece contínuo e melífluo
a fantasia de existir num sonho
que mesmo real
seja intenso e doloroso como um parto e um tiro.]

procuro a imagem do hoje e sempre,
como se não bastasse o passado a história do cotidiano em tinta
tudo fosse branco e vazio como o céu que vejo agora.

[procuro a promessa travada na garganta
o grito de esperança ao intangível.]

Trago comigo um saco de ossos roídos
e troco por um conto mesmo de carochinha
que valha ao mínimo alguma matéria, algum suspiro de cigarras de verão.

Pensei em criar canções de acalentar lembranças
e espantar fantasmas que as atraem.

um grito cortante, um ato que surpreenda
essas palavras bradas
que não saem no tom
persigo em tentativas na melodia dos pássaros
mas minha voz não tem som

não tem som!

No vagão de minha infância vejo janelas e construções
todos uniformes e andarilhos em constatações
de um futuro cheio de estrelas borradas em guache.

Saudades daquela criança vaidosa de olhos puros claridade,
antes de papai explanar sua metáfora
gritando um – já sei!