Tantas coisas passaram despercebidas
E foram levadas em silêncio,
Espalhadas pelos cantos do mundo.
Quantas vezes devia
Ter deixado o medo de lado
Ter armado um barraco
Na frente da casa de Anna Bela,
Ter passado noites aterrorizantes
Dias em desespero, eu devia.
E das teias grudadas na estante de livros
Devia ter escutado os versos
Do que sentir as lembranças
Desfalecidas, inertes, desprovidas
Devia ter escutado mais o meu coração
Que agora vive :
- calado, cansado, petrificado...
Devia ter andado pelas linhas tortas
Errado, me machucado
Ter pintado cores invisíveis
Conhecido o espetáculo imprévisto
Devia ter mergulhado nos instantes
E não ter deixado tempo respirar a saudade
Devia ter acordado mais cedo,
Pois sei que agora, é tarde demais
Sei que devia ter me levado
Para algum horizonte
Em algum braço, ou
Lago
E ter me afastado
Do tédio
Que hoje vive
Acorrentado
Em meus pés
Eu sei, eu devia ter me importado.
Clayton Pires
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